quinta-feira, 31 de maio de 2012

lacanês

Texto de Christian Ingo Lenz Dunker em Revista Cult

Ato analítico: designa tanto um tipo de intervenção do analista quanto o conjunto do tratamento psicanalítico e a passagem de analisante a analista. Como tipo de intervenção ele reconfigura a direção do tratamento (como que estabelecendo um novo início) e realiza a travessia de uma dada forma de relação na transferência, no sintoma ou na fantasia.

Estádio de espelho: descrito a partir dos estudos sobre a relação da criança diante do espelho (Walon) e da imagem do semelhante (Etologia) é utilizado por Lacan para explicar a formação do eu e a disposição imaginária de certos fenômenos que lhe são associados: agressividade, fascínio, transitivismo, negativismo.




Desejo: articulador central da subjetividade, o desejo organiza as relações temporais (o desejo é um fio que parte do presente, vai ao passado e lança-se ao futuro), os modos de relação com a alteridade (o desejo do homem é o desejo do Outro) e articula-se aos meios de subjetivação (linguagem, sexualidade, fantasia, Lei Simbólica). 


Imaginário: registro ou ordem de existência caracterizado pelo antropomorfismo, pela projeção e pela identificação. Corresponde ao domínio das imagens desde que consideradas segundo um tipo de reatividade, desconhecimento ou fascinação que são próprias. Os fenômenos de identificação de massa, de apaixonamento ou de idealização bem como a vocação alienante do eu possuem forte extração imaginária. 



Nome-do-Pai: principal operador da filiação de um sujeito, o Nome do Pai não equivale ao nome próprio do genitor, mas a uma função que, na neurose e na perversão, designa arbitrariamente a localização da falta e da causa do desejo (falo) no ­campo do Outro, indicando assim a localização indireta do sujeito no universo Simbólico. 




Objeto a: o termo objeto em psicanálise designa simultaneamente (a) um aspecto da pulsão, (b) um modo de relação e (c) a representação psíquica do outro. Lacan reconhece na noção de objeto a sua maior contribuição à psicanálise, ao reinterpretar a noção (a) como uma função de causalidade, (b) como um modo de relação não identificador e (c) como fonte da angústia e do que não pode ser representado para um sujeito.

Outro (ou grande Outro): no interior do registro simbólico, opondo-se tanto ao pequeno outro quanto ao objeto a, é o campo que determina o sujeito.

                           Quem é o Outro, o Hulk ou o Dr. Banner?

Real: registro ou ordem de existência do que é impossível de se representar na realidade psíquica ou material e não obstante é necessário para manter sua consistência. Apresenta-se como traumático, como angústia ou ainda como aspecto irredutível do corpo e da sexualidade. É estudado por Lacan a partir da escrita matemática e da lógica.


Simbólico: registro ou ordem de existência caracterizado pelo campo da linguagem e pela função da fala. Ordem ou sistema de trocas regido por uma Lei que sobredetermina as escolhas dos indivíduos.  O inconsciente se estrutura como uma linguagem na medida em que pertence ao domínio do Simbólico.

"Estranha relação é a que temos com as palavras. Aprendemos de pequenos umas quantas, ao longo da existência vamos recolhendo outras que vêm até nós pela instrução, pela conversação, pelo trato com os livros, e, no entanto, em comparação, são pouquíssimas aquelas sobre cujas significações, acepções e sentidos não teríamos nenhumas dúvidas se algum dia nos perguntássemos seriamente se as temos. Assim afirmamos e negamos, assim convencemos e somos convencidos, assim argumentamos, deduzímos e concluímos, discorrendo impávidos à superfície de conceitos sobre os quais só temos ideias muito vagas, e, apesar da falsa segurança que em geral aparentamos enquanto tacteamos o caminho no meio da cerração verbal, melhor ou pior lá nos vamos entendendo, e às vezes, até, encontrando."
 Trecho de O homem duplicado, de Saramago (pg. 77)

"De ciência minha, uma palavra que em si reúna e funda o falsear e o falsificar, não existe, Se o acto existe, também deveria existir a palavra, As que temos encontram-se nos dicionários, Todos os dicionários juntos não contêm nem metade dos termos de que precisaríamos para nos entendermos uns aos outros, Por exemplo, Por exemplo, não sei que palavra poderia expressar agora sobre a sobreposição e confusão de sentimentos que noto dentro de mim neste instante, Sentimentos, em relação a quê, Não a quê, a quem, A mim, Sim, a ti, Espero que não seja nada de muito mau, Há de tudo, como na botica, mas sossega, não to conseguiria explicar, por mais que o tentasse, Voltaremos a este tema outro dia, Queres dizer que nossa conversa chegou ao fim, Não foram essas as minhas palavras nem foi esse o sentido delas, Realmente não, desculpa, Em todo o caso, pensando bem, conviria que nos deixássemos ficar por aqui, é visível que há demasiada tensão entre nós, saltam faíscas a cada frase que nos sai da boca..."
 Idem, ibidem (Tertuliano e Maria da Paz, pg. 110)

"...Quanto mais te disfaçares, mais te parecerás a ti próprio."
Idem, ibidem (pg. 139)

"Tertuliano Máximo Afonso pousou o auscultador, depois deixou vagar o pensamento à vontade, como se continuasse a falar com a mãe, As palavras são o diabo, nós a crer que só deixamos sair da boca para fora aquelas que nos convêm, e de repente aparece uma que se mete pelo meio, não vimos de onde surgiu, não era para ali chamada, e, por causa dela, que não é raro termos depois dificuldade em recordar, o rumo da conversa muda bruscamente de quadrante, passamos a afirmar o que antes negávamos, ou vice-versa..."
Idem, ibidem (pg. 186)

Sinthoma: recuperação da forma antiga de escrever a palavra “sintoma”, equivale ao quarto elo que mantém unidos Real, Simbólico e Imaginário. Para um sujeito corresponde ao que é incurável em seus sintomas, inibições e angústias. Por exemplo: a atividade de escrever para James Joyce constitui um sinthoma.



"Que choques cá de querências contra carência, ostragodos versus piscigodos! Brékkek Kékkek Kékkek! Kóax Kóax Kóax! Ualu Ualu Ualu! Quaouauh! Onde bandos de botocudos inda avançam para arrasamassacrar linguarudos e verduns catapultarremessam contra kanibalísticos para fora da irlandalvosboycia de Montecaveira".
Trecho de Finnegans Wake, de Joyce




Sujeito: distingue-se do eu, do ego e da consciência como função de descentramento, divisão e negatividade. O sujeito, é para Lacan, um efeito de fala e de discurso que ocorre no tempo. Ele define-se mais por uma posição do que por conteúdos ou formas aos quais se identifica ou se aliena.


Silas Malafaia - Apresentador do programa Vitória em Cristo, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, presidente da Avec e do Comerj, autor de vários livros (perfil no facebook). Sobre a homofobia ver aqui



Fonte: 
SARAMAGO, José. O homem duplicado. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

2 comentários: